Pragas pré e pós-colheita constituem um fator limitante à produção de sorgo. No Brasil, as principais pragas de importância econômica na cultura incluem os besouros, lagartas, percevejos, pulgões e traças. Sendo que três espécies de pulgões ocorrem comumente no sorgo: pulgão-verde (Schizaphisgraminum), pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) e o pulgão-da-cana-de-açúcar (Melanaphissacchari) que foi identificado apenas em 2013 em plantios de sorgo dos EUA. Na safra de 2019/2020,este pulgão foi relatado causando danos econômicos em diversas regiões brasileiras, como no Triângulo Mineiro, Noroeste e Alto Paranaíba, em Minas Gerais, bem como em lavouras do Distrito Federal, de SãoPaulo, Goiás e Mato Grosso (Mendesetal.,2019). Desde então, esse pulgão é considerado o principal problema fitossanitário na cultura do sorgo no país, demandando soluções de manejo e convivência com esse inseto-praga.

Prejuízos causados pelos pulgões na cultura do sorgo

O pulgão causa prejuízos à cultura do sorgo em razão do seu hábito alimentar, de sugara seiva das plantas, e excretar uma substância açucarada, o honeydew (mela), sendo esta a principal característica do pulgão o que deixa as folhas do sorgo grudentas e com intenso brilho. O excesso dessa mela sobre as plantas acarreta no crescimento da fumagina, que é uma doença que ocorre em vegetais, a partir de fungos de coloração escura que utilizam o honeydew como substrato de
desenvolvimento (Van Den Berg et al.,2001). A fumagina pode cobrir a superfície da folha, provocando a diminuição da fotossíntese, respiração e transpiração da planta e fazendo com que as folhas sequem e morram rapidamente.

Além da sucção de seiva, o inseto é vetor de transmissão de três viroses conhecidas como vírus da folha vermelha do milheto (Paray etal., 2011), vírus da folha amarela da cana-de-açúcar em sorgo e cana-de-açúcar (Boukarietal.,2021) e vírus do mosaico da cana-de-açúcar em sorgo (Chung et al.,2021). O pulgão-da-cana-de-açúcar ocorre em todo o desenvolvimento da
cultura do sorgo, e pode variar de moderado a severo, dependendo do estágio em que a infestação começou. No entanto, o
emborrachamento do sorgo é considerado a fase crítica da cultura, por estar relacionado com a emissão das panículas e com a fase de mudança vegetativa para reprodutiva da planta.

No início da infestação, os insetos estão localizados no terço inferior da planta, na face de baixo (abaxial) da folha. Ao longo da colonização, os insetos acabam atingindo regiões superiores, com ocorrência, até mesmo na panícula do sorgo, causando grandes perdas de produtividade e até dificuldades na colheita mecanizada.

Como monitorar o pulgão-da-cana-de-açúcar no sorgo

O monitoramento do pulgão-da-cana-de-açúcar deve ocorrer semanalmente devido à sua rápida proliferação, observando-se
inicialmente as folhas que estão no terço inferior na face inferior da folha do sorgo. É fundamental estar atento às colônias iniciais que irão ocorrer na cultura, pois o monitoramento demanda vistoriar as folhar baixeiras da planta, uma vez que a doença se manifesta na parte abaxial das folhas (Figura3). Para avaliar o nível de infestação do pulgão selecionam-se, de
forma aleatória três pontos por talhão e em cada ponto avaliam-se 20 plantas (Fernandesetal.,2021)

  • Deve-se entrar na lavoura pelo menos 50 metros para dentro do campo, evitando as bordas.
  • Deve-se procurar folhas com sintomas da ocorrência do pulgão, mela, fumagina e exúvias (porção da epiderme eliminada pelo pulgão durante a muda).
  • Em cada planta, avaliar a presença de colônias médias (acima de 50 pulgões) e identificar.

O nível de controle para o pulgão-da-cana-de-açúcar deve ser de acordo com o estádio fenológico da planta. No entanto, geralmente o controle químico da praga nas plantas deve ocorrer quando atingirem 20% de infestação ou apresentarem 20% das plantas com colônias maiores que 50 pulgões/folha.

Prevenção do pulgão-da-cana-de-açúcar no sorgo

O tratamento de sementes de sorgo é um método que previne contra o ataque inicial do pulgão-da-cana-de-açúcar e outras pragas iniciais do cultivo. Isso é atribuído ao princípio ativo que tem a finalidade de proteger a ocorrência de insetos antes, durante e depois da geminação da plântula. Os produtos que podem ser adotados evitam as primeiras aplicações foliares, além de defenderem durante, no máximo,30 dias após a emergência da planta sem afetar os inimigos naturais do ecossistema.

Em função da característica da praga de permanecer escondida na parte inferior das folhas baixeiras, deve-se tomar grande cuidado com a tecnologia de aplicação, para que não seja aplicado produto apenas nas folhas superiores da planta, sem atingir o alvo. Com isso, durante a aplicação de inseticida, devem-se adotar pontas que formam gotas menores, como as utilizadas para aplicação de fungicida, que fazem com que o produto alcance com maior facilidade as partes baixeiras da planta. Além disso, vale ressaltar que inseticidas mais sistêmicos podem ter uma efetividade melhor para atingir o inseto-praga.

Em condições de campo, existem quantidades significativas de organismos que se alimentam dos pulgões como larvas de sirfídeos, joaninhas, tesourinhas, crisopídeos, parasitóides e fungos entomopatogênicos. Embora esse controle biológico não seja suficiente para manter as populações do pulgão em níveis que estejam abaixo do dano econômico, a utilização de inseticidas seletivos é fundamental para a conservação e a eficácia desses inimigos naturais (Fernandesetal.,2021).

De acordo com o Agrofit/Mapa(Brasil,2003),não existem inseticidas registrados para o pulgão-da-cana-de-açucar. No entanto, existe o registro para outros produtos inseticidas de pulgões em sorgo que podem ser usados com relativo sucesso para essa praga. Além disso, estão registrados para controle de pulgões em culturas próximas, como o milho e a cana-de-açúcar, alguns produtos inseticidas para o controle da praga. Entre os inseticidas mais utilizados e que tem mostrado uma boa eficácia no controle da praga são sulfoxaflor + lambda, cialotrina, flupyradifurone, imidacloprid, acetamiprid, e clorpirifós.

Por: Renato Vasconcelos – Melhorista Produtiva Sorghum

Referências

BOUKARI,W.;MOLLOV,D.;WEI,C.;TANG,L.;GRINSTEAD,S.;TAHIR,M.N.;MULANDESA,E.; HINCAPIE,M.;BEIRIGER,R.;ROTT,P. Screening for sugarcaneyellow leafvirusinsorghum in Florida revealed its occurrence in mixed infections with sugar cane mosaic virus and a new marafivirus. Crop Protection, v.139,105373,2021.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGROFIT: sistema de agrotóxicos fitossanitários. Brasília, DF, 2003. Acesso em: 12abr. 2022.
CHUNG, S. H.; BIGHAM, M.; LAPPE, R.R.; CHAN, B.; NAGALAKSHMI, U.; WHITHAM, S. A.;
DINESH-KUMAR, S. P.; JANDER, G. Rapid screening of pest resistance genes in maize using a sugar cane mosaic virus vector. BioRxiv, v.1, p.1-24,2021.
FERNANDES, F. O.; SOUZA, C. S. F.; AVELLAR, G. S. et al. Manejo de pulgão de cana-de-açúcar (Melanaphissacchari/sorghi) na cultura do sorgo. Comunicado Técnico Embrapa 249,2021. Sete Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo.
MENDES, S. M.; VIANA, P. A.; OLIVEIRA, I. R.; MENEZES,C . B.; WAQUIL, J. M.; TOMPSON, W. Pulgão-da-cana-de açúcar no sorgo: um velho conhecido, mas um novo problema! Grão em Grão,ano13,n.112,set.2019.
PARAY, N. B.; KHOODOO, M. H. R.; SAUMTALLY, A. S.; GANESHAN, S. Vector-virus relationship for Melanaphissacchari (Zehnt.) (Hemiptera: aphididae) transmitting sugar cane yellow leaf luteovirus in Mauritius .Sugar Tech, v. 13, n.1, p.77-80, 2011.
VANDENBERG, J.; WEIDEMAN, C. F. B.; BRONKHORST, L. Management of aphids in sorghum. Potchefstroom: ARC-Grain CropsInstitute, 2001. 35p. Project No.M131/30.

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